13.10.04

Episodio 1 - A Família: origem e fundação de Lapadócia

Para que se entenda THE TOINO STORY, a história do primo que correu mundo, é importante entender a origem da família onde a acção se desenrolou. Esta introdução, relata essa parte desconhecida da maioria. Não se praticaram exageros históricos. Apenas se pesquisaram os factos.
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Há muitos, muitos anos, nas montanhas entre Pacóvia e Bardamécia, na zona do Culássio, banhado pelo Oceano Tólãntico, uma tribo de pastores vivia a apascentar ovelhas. Eram pobres, sujos, ordinários, mas muito hospitaleiros.


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Certo dia, Nobres Templários, que cruzavam o seu território, pediram autorização de pernoita, propondo-se pagar bem por alimentos,uma cama e um tecto. As ovelhas seriam à parte.
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Jetéme de Mua-Nonplus, era capitão de uma escolta importante. O líder dos pastores deu guarida aos Templários na melhor tradição da tribo, para que repousassem um noite, confortávelmente. Os cavaleiros transportavam um enorme Baú cheio de cadeados e correntes. Os pastores, intrigados, tentaram perceber a que se devia tamanho contentor e segurança. Os Templários apenas respondiam: "São coisas de Fé, amigo"
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Nessa noite, um dos pastores, a quem se atribui a invenção da gazua, não descansou enquanto não abriu o cadeado.
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No dia seguinte, os Templários, acordaram na mais profunda paz que as montanhas podem oferecer. A clepsidra fora desligada e dormiram um pesado sono. Note-se que os Templários dormiam com as cotas de malha. Estranharam o silêncio. De pé, como uns lemures, observaram a paisagem notando, a falta dos pastores das ovelhas e da carroça com o cofre.

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O primeiro palavrão, ecoou nas montanhas.
Dos Templários a historia continuou a falar....e dos pastores?

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Depois de terem aberto o cofre, a surpresa foi tão grande, que muitos ficaram com tiques irreverssíveis. Perante o que os seus olhos viam, nada na Bíblia servia de calmante. Estavam a olhar para o Tesouro dos Templários. Havia ouro, muito ouro, pedras preciosas, figuras esculpidas em jade e âmbar, moedas, prata trabalhada, senhas de desconto, senhas de refeição, e até lá estava o Santo Graal.
Uma enormidade de riqueza.

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Montados nas ovelhas, os pastores fugiram nessa noite pelo mapa abaixo, rápidamente, sem deixar rasto.
Mais tarde, este acontecimento viria a ser conhecido não por Êxodo, mas por Lãzudo.

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Passaram pela Estereofonícia, seguiram para a Bazância pelo caminho do ostrogodo Otto Ekstrada. Seguiram para Banga e Oluffcía e foram descendo até ao ponto mais Austral da Europa.

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Tinham ouvido falar, a uns mercenários da Generrónia, que havia um Rei que batia na Mãe, mais a Sul.
"É o que precisamos" pensaram eles.
Continuaram a viagem atravessando a península na diagonal, mas de noite, para evitar a AlQueda do Baú em mãos alheias.

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Após muitos dias de viagem chegaram a uma planície ribeirinha onde se estableceram com as ovelhas e o Baú, ao que chamaram Lapadócia.... Claro, que a segurança não estava garantida. Houve que fazer artificialmente uma colina para melhor garantir qualquer tentativa de lhes irem ao Baú.

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À medida que faziam a colina, criaram um intrincado esquema de túneis, que apenas os patronos conheciam e conduziam à câmara do Tesouro. Com a colina construída, precisavam de garantir a segurança da tribo. Embora tivessem treinado as ovelhas a ladrar e saltar ao pescoço de estranhos, um exército, era bem melhor. Mas precisavam de autorização do Rei. Tinham que se tornar senhores Feudais.

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Enviaram um mensageiro para pedir uma audiência com o Soberano. Este acedeu, desde que não fossem do Círculos Lectorensis e não interrompessem o jantar. Depois de garantidos os pontos requeridos, rumaram a norte para se encontrarem com o Rei. Com um séquito de mais de 300 ovelhas e oferendas chegaram ao castelo senhorial.

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Foram recebidos pelo bobo, conhecido por Bobo do Castelo-Brinco. "despachai-vos, gentinha...o Rei nãoooo pode esperar. Credo! Detesto ovelhas e campo. Que coisa" E lá ia ele às cambalhotas pela trela de Bete de Gravestalo,a tratadora, até à sala da torre de Ménage. Assim chamada por se lavar muita roupa suja.

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"Ao que vindes?" perguntou o Rei, dando um real estalo na Mãe.
"Senhor, somos pastores pobres e moramos em Lapadócia. Queríamos ser Feudalisados"
"Quereides ser Feudidos?"
"Sim, para podermos Feudar o território"
O rei pensou que era bom ser franchisado no Sul e acedeu.
Batendo com o selo real no pergaminho A4, exclamou:
"Feuda-se......os Pastores"

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Já Feudados, os pastores iniciaram uma nova era Senhorial. Desceram até à sua propriedade e começaram a criar um Feudo. Castelo, tropa, agricultores, operários especializados,vagabundos, arrumadores...etc.

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A história seguiu os seus passos e o que foram, outrora, pastores pobres, eram hoje os poderosos senhores de Lapadócia. Considerado por muitos, como o Centro do Mundo.

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O tempo foi passando. Os reis foram descendo até Vila Moura. O país tomava as suas formas e as suas reformas. Os descobrimentos seguiam para Sul para tentar chegar a Leste. Os antigos pastores, eram hoje influentes, poderosos e unidos. As ovelhas há muito que tinham sido abandonadas. Dedicavam-se ao mundo dos negócios.

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Fiação (emprestar dinheiro a juros), Agricultura (cultura de papoilas e outros “hello,sin-ou-génios”), material de guerra, etc. Como a propriedade tinha vista para o baldio de Campo D’Ourique, onde haviam zaragatas monumentais com os vizinhos, ganharam bom dinheiro com as apostas criando o primeiro casino do mundo. O famoso Toril, mas por ter umas Eslavas meio Góticas que tiravam os véus, passou a chamar-se XXX-Toril.
Anos mais tarde foi alienado por um Feudo vizinho. Que em termos técnicos se dizia "Feuderam-no".

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Um dos mais famosos negócios foi a compra da plantação de tabaco ao Marquês da Mata. Hoje a maior marca de tabacos do mundo. Os Tabacos "Mata".

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Com os descobrimentos começaram a aparecer outras vias de negócio, especiarias, haxixe, lojas dos 300, escravatura...etc. Em todos a Lapadócia, com a sua capital, Lapa, se notabilizou. Sobreviveram aos Romanos, aos bárbaros, aos vikings, aos Franceses aos distribuidores de publicidade e muitos outros.

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Com o passar do tempo, rodeada de Olissiponenses, mais conhecidos por "alfaçáicos", por todos os lados e sujeita a enormes pressões da Carris, a Lapadócia começou e desagregar-se.

O que outrora fora o centro de tudo, onde nasceu o Renascimento, a Revolução Francesa, a Boeing, o Vinho do Porto e até a Nasa começou ali, era agora um espaço povoado de habitações sociais, baratas, que albergavam os antigos agricultores, operários e criadagem.

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A Nobre família muda-se para Massamá. A capital da Lapadócia, passa a zona periférica de Algés. Perde todo o seu explendor.

Foi uma epopeia.

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THE TOINO STORY, começa ainda na fase rica, mas já decadente.

Sobre o tesouro, não se sabe ao certo onde fica a entrada, nem se existiu. Quanto à história que vamos contar, essa sim, existiu. Serei o seu narrador. Foi-me contada pelo patrono da nossa familia às portas da morte:
"Esta é a verdadeira história" disse-me....... foram as suas últimas palavras...bem, as últimas não foram.
"Não me empurres paáááááááá...." foram sem dúvida as últimas, naquela tarde fatídica na Ponte Sobre a Estrela.


11.10.04

Episódio 2- A Família: flutes, cartas e òpio

O Sol escorregava pela abóbada celeste, vermelho de cansaço.
Pouco depois desaparecia na linha do horizonte. Consigo arrastava o manto anil da noite, roído pelas traças e ao qual os poetas chamavam céu estrelado. Até lhes faziam poemas......

A minha disposição, naquele entardecer não era das melhores.

Na Ponte sobre a Estrela, observava o que outrora fora o reino de Lapadócia. Hoje em dia estava confinado a uns meros metros quadrados nas traseiras de um prédio barato, algures na Rua de São Ciro.
Onde raio, estaria o Toino???
Não conseguia deixar de pensar nele. Há anos que nada se sabia do animal. Apenas sabia que corria mundo.
Na minha cabacinha, as imagens do passado, voavam num turbilhão, como sacos de supermercado barato, atirados do alto Cristo Rei em dia de temporal.
Tinha de haver uma explicação. Mas já tinha "despachado" o meu explicador.
Agora tinha de descobrir por mim.
Sem saber do Toino, eu nunca seria herdeiro Universal de Lapadócia.
Acendi o cachimbo. Puxei uma fumaça de ópio, e deixei-me flutuar no mar das minhas memórias……..



A nossa família, a propriedade, a casa, tudo se tornava presente e tomava forma…..
Ouvia a música da minha infância....
A nossa família, era sem dúvida uma das mais poderosas, senão a mais poderosa do mundo.
Herdeiros de Lapadócia.
Éramos detentores de uma riqueza imensa. Pornográficamente ricos.

Para evitar preferências, todos eram tratados por Tios e Tias. Apenas se falava nas Mães para qualquer insulto menor. Esse conceito perdurou.
Transformando a ex-Lapadócia, na zona do mundo com maior nível de consanguinidade. Todos, Tias e Tios.

Fazia-se o mínimo, na família.
Pela manhã, todos se vestiam a rigor, pegavam num copo e iam bebendo espumante ou vinhos caros até ao almoço. À tarde, jogava-se às cartas, dizia-se mal das pessoas e continuava-se a beber. À noite fumava-se Ópio.
Como eu era criança, não podia jogar cartas. Diziam que me podia viciar.
Era um stress.

A casa, era monumental. Foi construída ao longo de séculos.
Era tão grande, que havia charrettes a percorrer os corredores.
Tinha duas estalagens, entre os salões e os quartos. Davam guarida a Tios que não conseguiam chegar aos aposentos a tempo. Era chato ter de dormir nos corredores..

Nos diversos salões, várias orquestas sinfónicas tocavam 24 horas por dia.
Existiam vários jardins. De inverno, Verão, Outono-Inverno e alguns de Meia Estação.

Num dos salões de jogos um dos Tios enganou-se e em vez de uma mesa de bilhar, comprou um campo de futebol.
"Ambos têm o tampo verde", desculpou-se.
Compraram-se 2 equipas de futebol com àrbitos, juízes de linha e claques.
Mas como os resultados eram sempre os mesmos e tudo aquilo era um desassossego, decidiu-se acabar com o estádio. O cheiro a suor era insuportável.
O relvado passou a ter aves, e foi gerido pelo Sr. Nuno. O dos Pintos às Costas.

Nos jardins, o Tio, mandou construir uns banhos cobertos. Ao estilo renascentista, como tinha visto no Baidecano, numa das suas viagens pelo exterior.

Mas, como uma das Tias, teve uma visão divina. Viu S. José a aplainar tábuas nas oficinas da Ikea.…..
Os banhos passaram a Basílica.
A Família pouco lá ia.
O único Tio que lá foi, esteve 3 dias no confessionário. Foram precisos 3 padres, massagens cardíacas e ainda hoje o Tio reza penitências.
A basílica ainda se avista nos dias de sol.

A propriedade estendia-se em todas as direccões até se perder de vista.
Dizia-se que por ser tão grande, a linha do horizonte passava no meio.
O Tio Jolo, assim chamado, pelo elevado índice de burrice por neurónio quadrado, acreditava que era verdade.
Um dia encontrou um arame no chão e teimou que era um pedaço da linha do horizonte. Perante as gargalhadas de todos, fechou-se no quarto e saiu muitos anos depois com a teoria, que o arame era um meridiano fossilizado.
Ainda hoje se o pode ver no Museu Nacional de Lapadócia. Encerra às 17 horas.

Os jantares na nossa casa eram famosos. Individualidades mundiais percorreram os salões. Artistas, empresários, estrelas de cinema, de novelas fatelas, políticos, àrbitos, fiscais das Finanças e até Chefes de Estado, que saíam em muito mau estado.
Eram jantares de centenas de pessoas. A mesa era tão grande que em cada 250 lugares, havia uma cozinha. O Sr. Lopes, era o chefe de cerimónias. De cabelo oleoso, era bom a entreter os convidados e a fazer sumos de laranja. Expremia como ninguém. Mas por graça todos diziam "Estou Semtinto, Lopes". Partiu para fazer carreira a solo.

Houve outro personagem.
Era um míudo Catalão que a Família acolheu, o Picancho,
O nosso pintor de paredes. Um dia pintou o retrato da Tia, e mostrou ao Sr.Zé, um dos caseiros.
"Tã bunito. Ondé cubiste?" Passou a ter a alcunha do “O Pintor Cubista Pá Arte”.
Foi a fase negra. Um dia, foi-se embora.
Espero que se tenha safado.

Também, o saudoso Pastor, um emigrante francês, da Croissantécia, foi acolhido pelos Tios. Um mestre nos adubos químicos e seus derivados.
Há uma historia curiosa sobre ele. Uma das Tias, quiz envenenar o Tio e pediu-lhe que fizesse um “Anti-bio-Tio”. O rapaz enganou-se na composição e o Tio em vez de bater a bota, nunca mais teve infecções e gozou de uma saúde invejável até uma idade avançada.
A Tia, mandou o míudo embora.
O jovem mudou o nome para Pasteur e estabeleceu-se por conta própria. Ainda foi a vários jantares com as afilhadas, a Penny e a Celina.

Muitos dos que fizeram história, eram ou passaram por Lapadócia. Ao longo de séculos frequentaram a nossa casa. Gente como, Maria et Toina,neta. Ranhoire, Joana D'arcos (que não era nada ao Passo D'Orcas), Rave hell, Nope Leão, Clark Gaba-se, Marilna Mona Roy-se, Nikita Crochet, Fidel,o Casto, entre muitos outros.


Ouvi estas histórias vezes sem conta.

Mas foi quando os anos 50 já entravam na idade adulta, que eu nasci.
Em plena era espacial.
Os Russos mandavam as cadelas para o espaço e não as curtiam nos salões como muitos da nossa família.

Eu era a única criança .
Fazia o que me apetecia. Jogava às cartas, às escondidas. Mentindo, dizendo que estava a fumar.
Não estudava. Não lia.
Entretinha-me a pintar por cima dos valiosos quadros. Atirava os pianos de cauda pelas escadarias. Pegava fogo aos criados. Escrevia palavrões nas paredes.
Era um “enfant terrible”.
Tentaram abandonar-me várias vezes, mas eu voltava. Chamavam-me o "Bom Merengue Aus-troll-& ano". Inclusive, o laboratório que fazia experiências médicas comigo, devolveu-me à Famiília.

Os anos 60 bolsavam os seus primeiros dias, quando tive o maior choque da minha vida.

Lembro-me como tivesse sido há 40 e tal anos.
Estava a rasgar um “Too Loose de Low Traque”, quando ouvi gritos e correrias. Fiquei atento. Aquilo era pouco habitual.
A porta do salão abriu-se e entraram uma data de Tios.
Agarraram-me. Por momentos, pensei que a pena de morte tinha sido restabelecida e que me iam imolar.
Só percebi o horror,quando me disseram:

"PARABÉNS, JOCA, TENS UM PRIMO!”

Aí, sim, assustei-me e chorei, não como uma Madalena, mas como um queque, da Lapa.